Crónica - Benfica - 21-03-2010

segunda-feira, 22 de março de 2010

Faz sentido usar este blog para publicar a crónica que escrevo para o "O Ponto" quinzenalmente. Cá vai a desta edição:

3 foi a conta que Jesus fez


Nem me vale a pena falar da eliminatória com o Marselha, ou as goleadas aos rivais. Vamos ver se nos entendemos: nós, benfiquistas, não andamos de peito inchado e a falar alto nos cafés em dia de jogo por arrogância ou sobranceria. Isto é apenas o resultado de quase 20 anos de maus presidentes, maus treinadores e consequentemente jogadores como Pesaresi, Toy, El Hadrioui, Akwá, Tote, Escalona, Michael Thomas, Pringle e outro cento deles de cujos nomes agora não me lembro (felizmente). Os nossos amigos, adeptos de outros clubes têm que compreender que estes são os sintomas do fim de um ciclo terrível de anos em que o Benfica se afastou do seu lugar por direito: a lutar por títulos e a impressionar internacionalmente. É claro que isto terá que causar algum desconforto em apoiantes do F.C. Porto, mas principalmente porque o fim do ciclo negro do Benfica ameaça coincidir com o início de um ciclo parecido para eles. Foi precisamente a esse sentimento que nos habituámos: ver a época a caminhar para o fim, ver a equipa em frangalhos, não ter esperança em vencer nada de importante, e pior do que tudo, não conseguir imaginar a época seguinte, o treinador, os jogadores, o sistema de jogo, e uma mística de vitória. Não é por mal, é a lógica da batata. Se há poucos anos acabávamos campeonatos em 3º ou 4º lugar e perdíamos todos os jogos contra os rivais directos, agora é quase nossa obrigação, depois de um golo nas antas, olhar para o tripeiro da mesa do lado e dizer: “toma lá que já almoçaste!”

As crises alimentam-se a si próprias, e começam nos maus resultados. Qualquer goleada esconde um problema de balneário. Se o Mourinho não tivesse 10 vitórias seguidas no Porto, deixar o Deco ou o Baía a treinar na equipa B teria sido um sacrilégio e meio bilhete para a rua em vez de um magnífico acto de gestão de homens. Assim como o Jesualdo seria um mestre da táctica se tivesse ganho alguns dos jogos em que inventou. Mas como previsivelmente lhe correram mal, a crise acentuou-se, os jogadores desmoralizaram, o capitão voltou a ser um caceteiro de 90 quilos em vez de um central de nível mundial, o Meireles passou a ser uma nódoa em vez de motor da equipa e o Rodriguez passou a ser um gordo sempre lesionado em vez de melhor jogador desviado do Benfica esta década. E o pior de um ciclo negro é entrar nele. Como areias movediças. Ás vezes quanto mais se esbraceja e luta para sair do problema, mais fundo nos enterramos. Isto pode demorar anos a resolver-se, especialmente quando já não se tem os números de telefone dos árbitros na agenda. Ou quando se tem os números mas os telefonemas aparecem no youtube.

No Sporting as crises não precisam de alimentarem-se a si próprias. Naquele clube não faltam especialistas em criá-las, alimentá-las, e especialmente desbobiná-las na imprensa. Porque as equipas administrativas que têm passado pelo Sporting, ou são discretas e pouco influentes na banca (portanto nada de reforços de qualidade), ou são influentes, conseguem dinheiro para reforços, mas são desbocados, exuberantes e maus a escolher jogadores e equipas técnicas (o que vai dar no mesmo). Os anos negros do S.L.B. disfarçaram este facto com alguns segundos lugares, mas agora pelos vistos tudo se compôs.

Sobre o Braga não falo por agora. Merece o respeito de ainda poder ser campeão. E porque aqueles jogadores aprenderam com Jorge Jesus.

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